8.3.05

A propósito de dias

Eu sou contra os dias comemorativos. Acho sempre que, tal como o Natal que é quando o Homem quiser, os dias disto e daquilo são quando os homens e as mulheres quiserem, contudo reconheço que o dia da mulher muitas vezes é quando o homem quer e isso inquieta-me, mas não faz de mim uma defensora dos dias mundiais.

Falarei, porventura, de cátedra porque, felizmente, nunca senti na pele a discriminação e a violência a que muitas mulheres estão sujeitas. Saber que ainda é necessário reservar um dia para chamar a atenção para essa violência, seja ela física, moral ou intelectual, não só me inquieta como me choca e revolta, mas isso não faz de mim uma feminista.

Agradeço às que lutaram pelo direito ao voto, às que lutaram pelo direito ao trabalho pago, às que lutaram pelo direito a um salário igual, às que lutaram pelo acesso ao ensino, às que ousaram vestir calças, mini-saia e biquini. Estou-lhes reconhecida.

Agradeço, acima de tudo, às minhas avós que foram as líderes da casa e me deram o exemplo e à minha mãe que nunca abdicou dos seus direitos de mulher, não deixando de defender os seres humanos no seu todo - homens ou mulheres, velhos ou crianças. Elas foram feministas sem serem seguidoras dos movimentos da época, por desconhecimento ou por opção.

Eu no lugar e no tempo delas teria feito o mesmo. Elas foram feministas a seu modo e por isso eu não tenho hoje de o ser.

E agora, que parece não haver mais direitos a conquistar, gostaria que o dia da mulher caísse no esquecimento, não fossem os milhões e milhões de mulheres que sofrem porque nasceram mulheres, mas isso não faz delas os seres mais fracos.

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