26.7.04

literatura açoriana?

E lá rumaram os gatos à Carmina galeria. O vinho branco da casa é divinal, o chá estava óptimo e a conversa, aos poucos, ganhou vivacidade e  forma.

Viu-se um filme, leram-se poemas, partilharam-se livros e no final contaram-se anedotas. O filme: de Rui Melo. Os poetas: Sophia Breyner, Emanuel Félix, Nuno Júdice e Manuel Alegre. As anedotas: pelo inimitável Belarmino Ramos. A conversa: Há uma literatura açoriana?

22.7.04

gatos na galeria

Os miragatos vão sair da toca no próximo sábado e dirigir-se à Galeria Carmina,  na Ladeira Grande. Alguns já lá estiveram no dia da inauguração mas o faro apurado dos felinos detectou um bom petisco para aqueles lados e decidiram voltar. Em troca, far-se-ão acompanhar de uns livros de poesia.

18.7.04

“Nenhum Olhar"

Quando li "Nenhum Olhar", de José Luís Peixoto, sublinhei estas passagens, que aqui estão agrupadas mas que surgem ao longo do romance. Perceberão porque as quero partilhar convosco.
 
Somos uma agulha de pinheiro diante de um incêndio, somos um grão de terra diante de um terramoto, somos uma gota de orvalho diante de uma tempestade.
 
Penso: talvez a dor exista para nos avisar de uma dor maior.
 
Penso: talvez o céu seja um mar grande de água doce e talvez a gente não ande debaixo do céu mas em cima dele; talvez a gente veja as coisas ao contrário e a terra seja como um céu e quando a gente morre, quando a gente morre, talvez a gente caia e se afunde no céu.
 
Penso: talvez haja uma luz dentro dos homens, talvez uma claridade, talvez os homens não sejam feitos de escuridão, talvez as certezas sejam uma aragem dentro dos homens e talvez os homens sejam as certezas que possuem.
 
Penso: talvez o sofrimento seja lançado às multidões em punhados e talvez o grosso caia em cima de uns e pouco ou nada em cima de outros.
 
Penso: o lugar dos homens é uma linha traçada entre o desespero e o silêncio.
 
Penso: não existir, ser o esquecimento de alguém esquecido para sempre, morrer muitas vezes morto.
 
Penso: se o castigo que me condena se fechar em mim, se aceitar o castigo que chega e o guardar, se o conseguir segurar cá dentro, talvez não tenha de suportar novos julgamentos, talvez possa descansar.
 
Penso: talvez eu já não seja este corpo que me tornei, talvez eu já não seja esta forma dentro deste corpo, talvez eu seja eu já morto só a sofrer, sem vontade, só à espera da morte que nunca chegará.
 
Penso: um dia pode ser mil anos. Penso: ninguém sabe ao certo se passou um ano, ou mil anos, ou uma hora rápida, num dia que passou.
 
O mundo acabou. E não ficou nada. Nem as certezas. Nem as sombras. Nem as cinzas. Nem os gestos. Nem as palavras. Nem o amor. Nem o lume. Nem o céu. Nem os caminhos. Nem o passado. Nem as ideias. Nem o fumo. O mundo acabou. E não ficou nada. Nenhum sorriso. Nenhum pensamento. Nenhuma esperança. Nenhum consolo. Nenhum olhar. 
 
in PEIXOTO, José Luís, Nenhum Olhar



15.7.04

Sotaque

"Para algum imigrante, o sotaque pode ser uma desforra, um modo de maltratar a língua que o constrange. Da língua que não estima, ele mastigará as palavras bastantes ao seu ofício ao dia-a-dia, sempre as mesmas palavras, nem uma a mais. E mesmo essas, haverá de esquecer no fim da vida, para voltar ao vocabulário da infância. Assim como se esquece o nome de pessoas próximas, quando a memória começa a perder água, como uma piscina se esvazia aos poucos, como se esquece o dia de ontem e se retêm as lembranças mais profundas. Mas para quem adotou uma nova língua, como uma mãe que se selecionasse, para quem procurou e amou todas as palavras, a persistência de um sotaque era um castigo injusto

in BUARQUE, Chico, Budapeste, ed. D. Quixote, 1.ª edição, 2004, p. 99

13.7.04

Alentejo (3)


 Posted by Hello

Alentejo (2)


 Posted by Hello

Alentejo (1)


 Posted by Hello

a confissão de margarida

Há cerca de um ano, quando os blogs começaram em força em Portugal, eu, como adoro experimentar o que as novas tecnologias nos oferecem, criei um blog, mas não dei o endereço a ninguém e não o disponibilizei ao público – é como um segredo que trago guardado ao lado de mais uns quantos, não muitos.

Depois apareceram os gatos e um blog calçava que nem uma luva para um fórum desta natureza e, numa questão de minutos, preparou-se um blog à nossa medida, que depois foi melhorado em termos gráficos. Os membros inscreviam-se e de quando em vez colocavam aquilo que desejassem partilhar com os restantes. Como somos muitos haveria sempre algo de novo e estava resolvida a grande questão dos blogs – a actualização, a novidade.

De início não foi fácil. Nem todos estavam à vontade com esta nova linguagem de blogar, até lhe chamámos Tiribé para não traumatizar, mas lá foram entrando e colocando os suspiros de alívio por terem passado mais uma etapa na conquista da comunicação blogosférica.

E eu fiquei exuberante por ter conseguido levar uns quantos para uns terrenos que me são favoráveis, contudo as contribuições são inferiores àquilo que se esperava, o que não significa que não vão quase diariamente ao blog verificar se há algo de novo – o site meter informa e até detecta de que computador foi acedido. Estou de olho em vocês!

Para que não se torne demasiado maçador estar sempre a ver o mesmo, conduzindo ao desinteresse, resta-me uma alternativa e que era aquela por onde não gostaria de enveredar, pois, tal como vos disse anteriormente, até tenho o meu próprio blog, e não queria monopolizar isto: é a de começar a mandar diariamente coisas para o Tiribé. Antes de começar a fazê-lo achei que vos devia esta confissão. Se não gostarem do acto resta-vos, no mínimo, duas hipóteses, como tudo na vida, e acho que já perceberam quais são.

3.7.04

Euro 2004 em Angra do Heroísmo


Angra celebra a qualificação de Portugal para a final

Sophia de Mello Breyner Andresen

Quando

Quando o meu corpo apodrecer e eu for morta
Continuará o jardim, o céu e o mar,
E como hoje igualmente hão-de bailar
As quatro estações à minha porta.

Outros em Abril passarão no pomar
Em que eu tantas vezes passei,
Haverá longos poentes sobre o mar,
Outros amarão as coisas que eu amei.

Será o mesmo brilho a mesma festa,
Será o mesmo jardim à minha porta,
E os cabelos doirados da floresta,
Como se eu não estivesse morta.

2.7.04

De férias

Tenho a sensação que alguns gatos já foram de férias sem deixar rasto. Não aparecem nos quintais quando abrimos as portas, não miam por comida, não trepam às árvores, não brincam deliciados por baixo das folhas de couve. Partiram e não disseram para onde. Ainda não mandaram postal, se é que o vão fazer, e resta-nos aguardar que nos apareçam em breve ao fim da tarde, ronronando.