17.4.06

Balada para a Trégua Possível

10.

Tão próxima a colheita!
Tão afável o dia!
(Um gnomo verde espreita
tua figura esguia).

Tão claro e manso o rio!
Tão distante o horizonte!
(Um véu de névoa e frio
veste de espanto o monte).

Tão próxima a partida!
Tão cedo para a morte!
(A secreta ferida
da vária, esquiva sorte).

Tão para pouco o amor!
Tão solitário o medo!
(Entre o mar e a flor,
desvendo o teu segredo).

No seio do fruto estás,
sorridente e igual.
Quase humano e animal
ansioso de paz.

Igual e sorridente,
permaneces ainda
no seio da trégua finda.
E tudo é diferente.

Mais lúcido o metal
das espadas coroa
a divina pessoa
que em ti, serena e igual,

espera desde criança,
no país ocupado,
o som claro e doirado
da trombeta da esperança.

Daniel Filipe


13.4.06

Balada para a Trégua Possível

9.

Como açucena, abre-se o teu rosto
por sobre o doce, tímida paisagem:
serena imagem
na manhã de Agosto.

Como magnólia, vertes o perfume
das tuas ancas sobre o pinheiral:
ávido fume.
casto e sensual.

Como pinho selvagem, te recebo
e amo no chão de areia ensolarado:
ingénuo efebo
deslumbrado.

Daniel Filipe


6.4.06

Balada para a Trégua Possível

8.

Em tuas mãos obreiras nascem flores.
Em teu sexo germinam alvoradas.
manhãs de outono sem clarões de espadas
riso, perfumes, cores.

Daniel Filipe


4.4.06

Balada para a Trégua Possível

7.

E, de novo, nos damos, nos propomos
como pássaros livres e seguros
de pertencer-lhes o sabor dos pomos.

Daniel Filipe