31.3.05

O sítio do museu visitado

Museo Casa Natal Federico García Lorca de Fuente Vaqueros

Hotel Residencia Los Tilos

Tenho o prazer de vos apresentar o hotel onde a Luísa ficou hospedada. Um mimo, com mordomo e tudo!

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25.3.05

O Viajante

[A viagem] começa duzentos anos antes do seu nascimento, ou seja, mais ou menos sete gerações antes, e, depois, a pouco e pouco, avança rumo ao presente. O objectivo é inocular no coração do viajante a humildade e a compaixão, a tolerância pelos seus semelhantes. O jovem encontrará centenas de antepassados e, desse modo, toda a gama de possibilidades humanas passará diante dos seus olhos, todos os números da lotaria genética comparecerão à chamada. O viajante compreenderá que descende de um imenso caldeirão de contradições e que, na sua linhagem, há mendigos e loucos, santos e heróis, estropiados e criaturas de uma beleza imaculada, almas boas e criminosos violentos, altruístas e ladrões. Esta exposição a tantas e tão variadas vidas num tão breve espaço de tempo leva-o a ganhar uma nova consciência de si mesmo e do seu lugar no mundo. O viajante vê-se a si mesmo como parte de algo que é maior do que ele, e vê-se a si mesmo como um indivíduo específico, inconfundível, um ser humano único, ímpar, com um futuro próprio, insubstituível. Compreende, finalmente, que o único responsável pela pessoa que ele é, é ele mesmo.

in Paul Auster, A Noite do Oráculo

23.3.05

Filme para Sexta-feira

Iniciámos no ano transacto uma actividade que acho que devemos repetir este ano e, eventualmente, torná-la uma tradição - ver um filme sobre comida na Sexta-feira Santa. Não se trata de uma provocação mas de uma óptima oportunidade para reflectirmos sobre o ser, o ter e o comer.

Proponho-vos:
Delicatessen
ano: 1991
país: França
género: Comédia Fantástico
realização: Jean-Pierre Jeunet
intérpretes: Dominique Pinon, Pascal Benezech, Marie-Laure Dougnac

As crónicas dizem que é um filme fantástico de humor negro com uma história mórbida devidamente traduzida cenograficamente. Trata-se de um açougueiro, em tempos de crise, que esquarteja regularmente um dos seus inquilinos para matar a fome, contudo isto é tido como algo absolutamente trivial. O mais impressionante é que, por mais absurdo que possa parecer a princípio, tudo parece estar no seu devido lugar.

Jean-Pierre Jeunet é realizador de O Fabuloso Destino de Amelie Poulain e do mais recente filme exibido nas nossas salas de cinema Um Longo Domingo de Noivado.

22.3.05

Busque Amor novas artes, novo engenho

Busque Amor novas artes, novo engenho
Pera matar-me, e novas esquivanças,
Que não pode tirar-me as esperanças,
Que mal me tirará o que eu não tenho.

Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
Andando em bravo mar, perdido o lenho.

Mas, enquanto não pode haver desgosto
Onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê,

Que dias há que na alma me tem posto
Um não sei quê, que nasce não sei onde,
Vem não sei como e dói não sei porquê.

Luís de Camões

21.3.05

Porque hoje também é dia de poesia

CONTA-MO OUTRA VEZ

Conta-mo outra vez: é tão bonito
que não me canso nunca de escutá-lo.
Repete-me outra vez que o par
do conto foi feliz até à morte.
Que ela não lhe foi infiel, que a ele nem sequer
lhe ocorreu enganá-la. E não te esqueças
de que, apesar do tempo e dos problemas,
continuaram beijando-se cada noite.
Conta-mo mil vezes por favor:
é a história mais bela que conheço.

Amalia Bautista (1962)

20.3.05

Viagem à Namíbia (XII)

Safari - Dia 3
Todo o dia no Parque Etosha
Acampamento no Etosha National Park –
Okaukuejo.


Levantamo-me às 5:00 da manhã para tomar duche, uma vez que o da noite de pouco serviu porque deito-me em saco-cama mal cheiroso. Depois de um chá com biscoitos secos partimos às 6 horas para um primeiro game drive. Os animais aparecem em maior quantidade por esta altura do dia, pois evitam as horas de muito sol.

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O habitual é os guias levarem-nos até às nascentes ou pequenos charcos, uns naturais outros artificiais, para aí vermos os animais a beber mas, como tem chovido nos últimos dias, a água abunda um pouco por todo o lado, a erva começa a despontar, e estes locais já não são tão procurados, contudo ainda temos a oportunidade de ver leões, zebras, muitas zebras a atravessarem a estrada sem se perturbarem com os veículos que por ali passam, cudus, avestruzes, girafas, gnus, antílopes sul-africanos, gazelas e muitas aves. Não é permitido sair dos veículos mas, dado que a maioria possui tejadilho móvel, podemos observar sem dificuldade os animais. Apontamos os binóculos, as máquinas fotográficas e de filmar e disparamos quase ininterruptamente.

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O número de jipes, autocarros e carrinhas começa a aumentar, aproximamo-nos, deve haver caça grossa por perto – é um leão que ronda, mais ao longe, por detrás de uns arbustos, aparece outro, aquele é enorme, adulto, marca o seu território. Mudamos de ponto de observação, avançamos uns quilómetros, não podemos sair do veículo mas há quem se aventure a ir sentado em cima da capota, o nosso motorista e guia pega na máquina fotográfica e tira uma fotografia, vai mandá-la para o Ministério do Turismo, há que zelar pelo parque, pelo desenvolvimento sustentável, pelo sustento do país. Apercebemo-nos rapidamente que andamos todos atrás dos mesmos animais e há que lhes dar liberdade, não os cercar muito.

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Regressamos ao acampamento, tomamos um pequeno-almoço britânico com ovos mexidos e bacon, desmontamos as tendas, guardamos tudo no autocarro e prosseguimos o nosso game drive pelo parque.

O Parque Etosha é um dos melhores locais do mundo para observar animais em estado selvagem. Etosha significa “Grande local branco com água seca”, nome que deriva da vasta área plana branco-esverdeada que possui, por ser salgada. Seriam necessários 17 dias para a atravessar a pé, e vários litros de água. Este parque possui mais de 20 000 km2, alberga 114 espécies de mamíferos, 340 espécies de aves, 16 répteis e anfíbios, uma espécie de peixes e inúmero insectos.

Paramos para almoçarmos no parque de campismo Halali e de seguida prosseguimos na caça fotográfica aos animais. Avisam-nos que um pouco mais à frente foram vistos jovens leões, dirigimo-nos para lá e encontramo-los relaxados, deitados no capim a aguardar a grande chuvada que se anuncia por uma fabulosa nuvem negra no horizonte. Burger, o guia, regozija, dar gargalhadas, agradece a Deus, a chuva está aí, é a vida em pleno. As gazelas, às centenas, aproximam-se aos saltos pela savana, têm um poder de propulsão enorme, estão felizes com a chuva, com a comida fresca que começa a despontar.

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Chegamos ao fim da tarde a Okaukuejo, outro excelente e enorme parque de campismo com lojas, restaurante, bar, piscina, balneários e cozinha. Está praticamente cheio, conseguimos lugar no fim do parque junto ao water hole, local fantástico, iluminado, para que possamos ver os animais que se aproximam de noite.

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Montamos as tendas à pressa, pois nova chuvada se aproxima, visitamos o parque, tentamos carregar as máquinas fotográficas e os telemóveis.

Josh e Randy preparam-nos o jantar numa hora – acendem a fogueira com a lenha que é também transportada no autocarro, colocam a grelha por cima, os tachos, a chaleira para o chá ou café, temperam a olho com a muito variada quantidade de temperos que trazem. As quantidades da comida são também bem medidas, não falta nem sobra e se falta são eles os últimos a comer. Esta noite preparam-nos strogonoff com arroz e legumes. Enquanto uns vão à cozinha lavar a louça, outros aproximam-se do water hole à espera dos animais que possam aparecer, talvez um elefante nos venha visitar. Eu e a Cris perdemo-nos no regresso ao nosso local de acampamento e temos uma boa doze de gargalhadas, que nos faz um excelente bem ao ego. Acabamos por seguir uma das inglesas que transporta parte da louça do jantar. Procuramos o “buraco de água”, por entre o capim, sentamo-nos num banco mas só vemos aparecer uns lagartos. É hora de voltar à tenda e dormir até de madrugada.

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17.3.05

poema chinês

A árvore de alta montanha
Padece do vento e da chuva.

Tang (618-907)

14.3.05

Intertexto e discurso parodístico

Não, não estamos perante plágio. "Cesariny re-escreve parodisticamente alguns textos de Pessoa, citando-os 'ipsis verbis'". Este é um excelente exemplo que se encontrava hoje no meu poemário 2005 e que me pareceu o poema de Pessoa. Após confirmação em letras&Letras pude confirmar que "Quem te disse ao ouvido êsse segredo" transcreve quase literalmente o texto poético de Pessoa ortónimo que tem por título "Intervalo". Segundo J. Cândido Martins (Universidade Católica Portuguesa – Braga) "mais do que uma forma de 'plágio de derisão', este texto de Cesariny é uma revolucionária e destruidora forma de reescrita". Resta-nos descobrir as diferenças e o porquê delas.

INTERVALO

Quem te disse ao ouvido esse segredo
Que raras deusas têm escutado
Aquele amor cheio de crença e medo
Que é verdadeiro só se é segredado?...
Quem te disse tão cedo?

Não fui eu, que te não ousei dizê-lo.
Não foi um outro, porque não sabia.
Mas quem roçou da testa teu cabelo
E te disse ao ouvido o que sentia?
Seria alguém, seria?

Ou foi só que o sonhaste e eu te o sonhei?
Foi só qualquer ciúme meu de ti
Que o supôs dito, porque o não direi,
Que o supôs feito, porque o só fingi
Em sonhos que nem sei?

Seja o que for, quem foi que levemente,
A teu ouvido vagamente atento,
Te falou desse amor em mim presente
Mas que não passa do meu pensamento
Que anseia e que não sente?

Foi um desejo que, sem corpo ou boca,
A teus ouvidos de eu sonhar-te disse
A frase eterna, imerecida e louca –
A que as deusas esperam da ledice
Com que o Olimpo se apouca.

Fernando Pessoa


Quem te disse ao ouvido esse segredo
Que raras deusas têm escutado –
Aquele amor cheio de crença e medo
Que é verdadeiro só se é segredado?...
Quem te disse tão cedo?

Não fui eu, que te não ousei dizê-lo.
Não foi um outro, porque o não sabia.
Mas quem roçou da testa teu cabelo
E te disse ao ouvido o que sentia?
Seria alguém, seria?

Ou foi só que o sonhaste e eu te sonhei?
Foi só qualquer ciúme meu de ti
Que o supôs dito, porque o não direi,
Que o supôs feito, porque o só cobri
De sonhos que nem sei?

Seja o que for, quem foi que levemente,
A teu ouvido vagamente atento,
Te falou desse amor em mim presente?

Foi um desejo que, sem corpo ou boca,
A teus ouvidos frouxamente disse
A frase eterna, imerecida e louca
- A que os ninfos esperam da ledice
Com que o Olimpo se apouca.

Mário Cesariny (1923)

13.3.05

Viagem à Namíbia (XI)

Safari - Dia 2
Aprox. 4hrs (350 km)
Acampamento no Etosha National Park – Namutoni

O saco-cama que aluguei não foi lavado e tenho de me aconchegar em cima do colchão com uma toalha sobre os ombros. Cheira a gente desconhecida – que desagradável, insuportável, mesmo!

Levantamo-nos às 6 horas, desmontamos o acampamento, tomamos o pequeno-almoço (cereais, ovos mexidos, torradas, manteiga, compotas, chá, café) e às 7:30 partimos até à cidade mais próxima para abastecer de combustível, mas paramos logo à frente para vermos um antílope que foi parcialmente comido por um leopardo.

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Apeamos para a ver as marcas dos cascos dos animais que por ali passaram após a chuvada da noite e o guia opta por nos ensinar o essencial sobre a vida na savana. Aprendemos sobre as termiteiras, que se encontram por todo o lado, e sobre a grande diversidade de plantas do local. Só depois seguimos para a estação de serviço e nos pomos a caminho do parque Etosha.

Um dos pneus fura e logo a seguir outro - temos de parar e como já se faz um pouco tarde para o almoço escolhemos uma grande árvore junto à estrada, preparamos o almoço e comemos enquanto tentam mudá-los, mas a tarefa torna-se bem mais demorada que o previsto e optam por doze de nós seguirem viagem na carrinha e os restantes aguardam que venham trazer os pneus arranjados. A empresa que foi chamada para recolher e arranjar os pneus pertence, muito possivelmente como quase tudo nesta terra, a um branco africano com um empregado preto. Tenho a sensação que os negócios estão em grande parte nas mãos dos brancos. Mas uma coisa eles têm em comum com que se entendem – a língua africânder

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Hoje está pela primeira vez um sol radioso com céu azul, apesar de algumas nuvens brancas. Esquecemo-nos de colocar o protector solar e isso vai deixar as suas marcas.

Optamos por ficar para trás em vez de irmos enlatadas na carrinha. Enquanto esperamos lemos à sombra e revejo os parceiros de viagem - somos 21 ao todo, com os 2 guias/motoristas, Burger e Randy, e o moço ajudante, Josh; um casal de sul-africanos residentes no Canadá; um casal amigo dos canadianos; um casal inglês que já esteve nos Açores; 2 amigas de Londres, uma sueca, outra filha de mãe suiça; 2 alemãs, uma residente em Hamburgo, outra em Amesterdão; um sueco, meio-alemão, residente na Alemanha, com 208 cm; uma moça de Gales; uma espanhola que estuda veterinária em Inglaterra; um polaco de ascendência franco-alemã, filho de pai francês prisioneiro de guerra; um inglês que vem à Namíbia pela sétima vez; um reformado australiano e nós as duas portuguesas.

Paramos uma última vez antes de Etosha, em Tsumeb, pequena cidade mineira numa região privilegiada de África em minério - 184 minerais foram encontrados neste local, possui a 5.ª maior mina de chumbo do mundo.

À medida que nos aproximamos do Parque Etosha, começamos a ver cada vez mais animais, especialmente girafas e avestruzes. Os que se anteciparam a nós conseguiram ver um leopardo em cima de uma árvore.

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Instalamo-nos no parque de campismo, que tem energia eléctrica e permite que carreguemos telemóveis e máquinas fotográficas e de vídeo.

Jantamos à volta do fogo espaguete com carne e cogumelos, acompanhado de legumes.

8.3.05

A propósito de dias

Eu sou contra os dias comemorativos. Acho sempre que, tal como o Natal que é quando o Homem quiser, os dias disto e daquilo são quando os homens e as mulheres quiserem, contudo reconheço que o dia da mulher muitas vezes é quando o homem quer e isso inquieta-me, mas não faz de mim uma defensora dos dias mundiais.

Falarei, porventura, de cátedra porque, felizmente, nunca senti na pele a discriminação e a violência a que muitas mulheres estão sujeitas. Saber que ainda é necessário reservar um dia para chamar a atenção para essa violência, seja ela física, moral ou intelectual, não só me inquieta como me choca e revolta, mas isso não faz de mim uma feminista.

Agradeço às que lutaram pelo direito ao voto, às que lutaram pelo direito ao trabalho pago, às que lutaram pelo direito a um salário igual, às que lutaram pelo acesso ao ensino, às que ousaram vestir calças, mini-saia e biquini. Estou-lhes reconhecida.

Agradeço, acima de tudo, às minhas avós que foram as líderes da casa e me deram o exemplo e à minha mãe que nunca abdicou dos seus direitos de mulher, não deixando de defender os seres humanos no seu todo - homens ou mulheres, velhos ou crianças. Elas foram feministas sem serem seguidoras dos movimentos da época, por desconhecimento ou por opção.

Eu no lugar e no tempo delas teria feito o mesmo. Elas foram feministas a seu modo e por isso eu não tenho hoje de o ser.

E agora, que parece não haver mais direitos a conquistar, gostaria que o dia da mulher caísse no esquecimento, não fossem os milhões e milhões de mulheres que sofrem porque nasceram mulheres, mas isso não faz delas os seres mais fracos.

3.3.05

Rascunho a propósito de névoa ou a casa dos/sem sentidos

As paredes da névoa exigem/dispensam a pintura do afecto
Os telhados do sol exigem/dispensam a música do olhar
As janelas do vento exigem/dispensam a escrita do tacto
As portas do orvalho exigem/dispensam a dança dos sentidos
Os quartos da tempestade exigem/dispensam -te