7.2.05

Viagem à Namíbia (V)

A ida

Partida do aeroporto das Lajes no voo das 10:25 rumo a Lisboa – 1.º troço de uma longa viagem que nos levará à Namíbia, onde contamos chegar amanhã à tarde. A bagagem é despachada directamente para Windhoek. Chegamos a Lisboa às 14:00. Temos de levantar os nossos passaportes que ficaram de nos ser entregues num rent-a-car de confiança da agência de viagens que tratou do visto para Angola. A Cris acredita que nos vão pedir a identificação para nos entregarem os passaportes, mas não é isso que acontece – dirigimo-nos ao balcão, dizemos ao que vimos e eles entregam-nos um envelope em nosso nome. Qualquer pessoa o poderia ter feito.

Dado que o voo para Luanda só parte à noite (23:30), há tempo para visitar os meus locais privilegiados de Lisboa, que são as livrarias – compro mais 2 livros para a viagem, junto à Desgraça de J. M. Coetzee, Luuanda, de Luandino Vieira e O Anjo da Tempestade de Nuno Júdice -, e ainda vou ao cinema. Vejo o último filme de João Canijo “Noite Escura” com excelentes interpretações no feminino e, tal como diz o resumo no jornal, “uma verdadeira tragédia grega” com todos os ingredientes, complexos e demais atributos: “o novo filme de João Canijo é uma tragédia grega passada para uma casa de alterne do Portugal, profundo, boçal e brutal.”

A vantagem de um avião particular é permitir a ligação entre dois pontos do planeta, sem linhas comerciais directas, no mínimo tempo possível. Deste modo se evita, por exemplo, chegar a um local às 14:00 e só ter ligação 9:30 depois. Sete horas de voo em constante balanço, como um automóvel em estrada de bagacina, a 11 300 m de altitude, à velocidade de 900 km/h, de Lisboa a Luanda, em linha recta, não permite que se durma e é muito cansativo. Lêem-se os jornais, as revistas, vêem-se os filmes que passam no ecrã e ainda sobra tempo. Em Luanda é mais uma hora que em Portugal.

Quando nos abeiramos da escada do avião em Luanda, respiramos fundo para podermos cheirar o tão famoso odor de África, mas como a Cris bem nota, só cheira a combustível.


aeroporto de Luanda

Desde que entrámos em Angola que temos tido um tratamento super VIP. Depois de uma noite em braco, o cansaço tomou conta de nós e o duche no aeroporto por 20 US dólares (bem pago) com direito a gel de banho, toalha e sala de estar é repousante e refrescante. A amiga da Cris, que trabalha no aeroporto de Luanda para a air Namíbia, mexeu todos os cordelinhos para não sermos envolvidas pela teia da burocracia do aeroporto e até nos coloca em executiva no voo Luanda / Windhoek.

A falta de dormir põe-me frágil, a tensão arterial deve estar baixa mas sobreviverei. Como o sono é revitalizante! À saída de Luanda o avião ruma para o Sul sobre terra, com o contorno da costa no lado direito e o Atlântico ao fundo. A terra é plana, da cor de tijolo, quase coberta de verde. Na capital, o verde foi substituído pelas coberturas metálicas dos musseques, mais a sul só as estradas e os rios cortam a monotonia da planície.

Duas horas e dez minutos e chegamos a Windhoek.

Sem comentários: