27.2.05

Viagem à Namíbia (X)

Safari - Dia 1
Windhoek, Okahandja, Okonjima
aprox. 3:5hrs (250 km)
Acampamento no Africat Foundation

Às 08:30 passam pelo albergue para nos levar até à sede da Wilddog Safaris. A carrinha já transporta 2 jovens com aspecto de nórdicos, um deles é enorme, enormíssimo, nem cabe bem no lugar. Damos uma série de voltas e regressamos ao nosso albergue, parece que lá deveria estar mais um cliente que não apareceu, tenta-se de novo, e lá vem ela, é alemã.

Juntamo-nos a um grupo de pessoas de várias nacionalidades que aguardam a partida, servimo-nos de chá, pagamos o safari e o aluguer do saco cama, ouvimos uma pequena introdução ao que vamos fazer neste dia e distribuímo-nos pelos 2 veículos (autocarro e carrinha).

Sento-me no autocarro, com o aspecto de um jipe de todo o terreno, e ao meu lado segue o Steve, um inglês que vem pela sétima vez à Namíbia. Na última semana fez o Sul do país, em safari semelhante. Garante que o guia é do melhor que há, antes de cá vir confirma se é o Burger que vai guiar a viagem.


Viajamos até Okahandja, onde paramos para os motoristas irem abastecer-se de combustível e víveres. Junto a uma estação de combustível com uma pastelaria com bolos e café muito cheirosos encontra-se uma enorme feira com barracas onde há uma grande variedade de artigos de artesanato, essencialmente em madeira. Trago vestida uma T-shirt com umas palavras em português e acerca-se de mim um vendedor que com um ar muito feliz lê o que lá está escrito e diz que é angolano. Prometo que no regresso venho comprar-lhe qualquer coisa, mas que agora estou a iniciar a viagem, é muito cedo para começar a transportar artefactos.

O tempo está estável com algumas nuvens e uma temperatura amena, pouco acima de 20°C.

Saímos da estrada principal que nos leva até Otjiwarongo e tomamos um caminho de terra batida à esquerda, que se vai tornando cada vez mais estreita e com covas e acabamos num fabuloso campo de campismo, com excelentes condições, principalmente porque não tem energia eléctrica – uma grande eira de areia, rodeada de pedras vermelhas, um grelhador ao meio, uma cozinha com esquentador a gás e lava-louça, 2 retretes, 2 duches, um miradouro – tudo ao ar livre, requintado, bem decorado e com água quente.


Ensinam-nos a montar as tendas, gozamos o parque, alguns sobem ao monte que nos protege a Norte, tiramos as primeiras fotos da fauna e flora que nos rodeia e aguardamos que o almoço fique pronto. É uma refeição rápida, o que se entende pelo facto de termos acabado de chegar – salsichas, salada, pão, queijo.

O parque pertence à Africat Foundation, que se dedica à recuperação de animais selvagens, que por várias razões estiveram em cativeiro ou sofreram acidentes e depois, se possível, são libertados nos parques naturais da Namíbia ou África do Sul. Recebemos a visita de um responsável pela fundação que nos explica o trabalho que é desenvolvido pela mesma e seguimos para uma visita ao leopardo, leões e chitas jovens.


Regressamos à hora do jantar que ficou a ser preparado pelo outro guia, Randy, e o ajudante Josh. Rapidamente anoitece e apreciamos o pôr-de-sol avermelhado e lilás por detrás das árvores. A refeição é óptima – galinha assada na brasa em folha de alumínio, batata cozida e legumes. A sobremesa é banana assada com chocolate. Comemos à volta do grelhador em cadeiras de campanha com o prato no colo. Agora percebo porque recomendam um foco de mineiro para colocar na testa.


Entretanto, começa a chover e protegemo-nos debaixo dos guarda-sóis enquanto alguns ajudam a lavar a louça. São os primeiros momentos de relaxe para confraternizarmos e sabermos um pouco mais dos nossos colegas de viagem.

Vamos para a cama cedo para nos levantarmos com o sol. A primeira noite ao ar livre debaixo do céu africano.

20.2.05

Viagem à Namíbia (IX)

A um dia do safari

Quem não sabe é como quem não vê e quem não pergunta fica ignorante. Desde ontem que tentamos contactar uma empresa para fazermos um tour em Katutura township – um subúrbio da capital, habitada por negros e que remonta aos tempos do apartheid –, mas sempre que se liga o telemóvel a gravação de uma telefonista simpática informa que aguardemos, pois a chamada está a ser reencaminhada. Ontem, por ser Domingo, tinha alguma lógica, mas assim continua hoje de manhã. Estranho, teremos de adiar a visita para o último dia em Windhoek.

Entretanto, optamos por ir até à sede da Wilddog safaris para confirmar a ida de amanhã e saber se tem adaptadores de electricidade, porque o que trouxe não serve neste tipo de tomadas. Seguimos até ao endereço que consta no lonely planet mas encaramos com uma casa fabulosa, rodeada de um jardim lindíssimo com uns 3 ou 4 cães queridíssimos, apesar de serem de guarda, mas não há sinal da tabuleta que indica a empresa.

Depois tentamos o telefone e somos recebidas pela mesma gravação. Mandamos um e-mail a confirmar que já estamos no país mas horas mais tarde ainda não tinham confirmado. Finalmente, dizem-nos na recepção do albergue que temos de marcar 0 antes do número de telefone. Para nós o que parecia ser uma chamada local, afinal não o é.

Não estou preocupada, pois eles virão certamente buscar-nos amanhã, contudo tudo se teria resolvido se soubéssemos que era necessário o tal zero.


Hoje e amanhã (15 e 16 de Novembro) são dias de eleições da Namíbia para o Parlamento e Presidente da República. Concorrem vários partidos mas tudo indica que o SWAPO vai ser o vencedor, com um novo candidato, que não o Sam Nujoma, o único presidente eleito e reeleito desde 1990. Na cidade deparamo-nos com duas longas filas de eleitores que aguardam a entrada na assembleia de voto.


Vamos de táxi até um centro comercial na extremidade da cidade e ficamos fascinadas com a qualidade da construção e das lojas. Já no centro da cidade se encontram lojas muito modernas com excelentes artigos e o centro comercial vem confirmar ainda mais a ideia de que estamos num país, pelo menos numa capital, onde não falta nada e tudo tem qualidade. Uma cidade do primeiro mundo. Claro que não se vêem nestes restaurantes, lojas e centros comerciais pessoas de classes sociais muito baixas porque, creio, não têm poder de compra. Vêem-se essencialmente brancos, mestiços e gente nativa mas que deve poder comprar, pois o seu aspecto indica isso.

Os taxistas para os percursos mais curtos levam N$11, mas o táxi leva mais gente, caso haja lugar. É muito comum ouvir-se o toque da buzina para avisar que vão a passar e que tem lugar. Uma autêntica carreira de táxis por todas as ruas da cidade.

14.2.05

Viagem à Namíbia (VIII)

Dan Vijlion

De tempos a tempos vem a chuva, o céu continua com nuvens, a temperatura é amena, mas ainda não me apeteceu vestir uns calções. A época das chuvas, decididamente, já começou. No Norte poderá estar mais seco e menos chuvoso, dentro de 2 dias iniciamos o safari, esperemos que a chuva nos permita dormir nas tendas. Claro que esperava mais sol e mais céu azul, mas não há melhor escola do que a da experiência. Estamos no hemisfério sul e não no Equador e agora o tempo é mesmo assim. Garantem-me que antes de chegarmos esteve um calor insuportável, é difícil de acreditar.


Depois de uma manhã luminosa, a navegar durante 25 minutos na net, a ler e a escrever postais, almoçamos por perto, no KFC, e seguimos de táxi para o parque Dan Vijlion, a cerca de 25 km da cidade para oeste, pelo preço de 2 x N$90. Partimos às 14:00 e o táxi regressa para nos apanhar às 18:00. Simpáticos e correctos estes taxistas. A entrada no parque custa N$30 por pessoa e depois seguimos a nossa caminhada, por vezes interrompida pela chuva, até uma barragem completamente seca. A paisagem é praticamente sempre igual, se bem que a planície tenha dado lugar a elevações de xisto e de granito com várias espécies árvores e arbustos. Se em vez destas crescessem oliveiras e sobreiros, estaríamos no Alentejo. Não era bem desta paisagem que estava à espera mas é porque não olhei bem para as fotos da savana.

O trilho por onde seguimos, de 1,5 km, está muito bem marcado com setas brancas pintadas nas pedras e nos marcos em madeira, segue o leito de uma ribeira seca, ladeada de abundante vegetação, onde sobressaem as variadas espécies de acácias. As aves escolheram-nas para fazerem os seus ninhos, que pendem dos ramos como novelos de lã. Vemos, pela primeira vez, um animal de grande porte, um antílope sul-africano, e muitas muitas aves, consta que mais de 200 espécies podem ser observadas aqui.

A meio do percurso deparamos com um cemitério em estado de abandono. As placas gravadas indiciam que foi usado pela última vez na década de sessenta, os que lá repousam são essencialmente de origem alemã.

O Domingo é um dia pacato, não há movimento na cidade, nem no parque, apesar de estarmos à espera de muita animação, pois no lonely planet vem referido que este é um local escolhido pela população da capital para piqueniques no fim-de-semana. O ruído de fundo de crianças a brincar numa piscina chega-nos aos ouvidos.

No albergue há um jovem casal de alemães que viaja há mais de uma ano à volta do mundo. Estarão de regresso a casa pelo Natal, depois de terem passado 15 meses na Tailândia, Vietname, Austrália, Nova Zelândia, Argentina, Brasil, África do Sul e Namíbia, entre outros países. Não viajaram durante 3 anos para pouparem dinheiro e quando o arranjaram despediram-se dos empregos, compraram um bilhete relativamente barato que lhes permitiu ir a todos os continentes e seguiram viagem. Ficam em alojamentos económicos (na América do Sul até nem foi necessário, dado os preços baixos em relação ao euro), cozinham a sua própria comida e alugam um carro, quando não há melhor meio de transporte, ou compram, como foi o caso da Austrália e Nova Zelândia, e voltam a vendê-lo, até com algum lucro. Antes de regressarem vão até à Tanzânia trabalhar num projecto duma ONG durante 3 semanas. Ela já tem garantida a substituição de uma colega por alguns meses no seu anterior trabalho e ele também já assegurou uma entrevista com o antigo patrão. Parece que as preocupações dos familiares em relação à perda dos anteriores empregos não se justificaram.

Vaza-me os olhos...

Vaza-me os olhos: continuarei a ver-te,
tapa-me os ouvidos: continuarei a ouvir-te,
mesmo sem pés chegarei a ti,
mesmo sem boca poderei invocar-te.
decepa-me os braços: poderei abraçar-te
com o coração como se fosse a mão.
Arranca-me o coração: palpitarás no meu cérebro.
E se me incendiares o cérebro,
levar-te-ei ainda no meu sangue.

Rainer Maria Rilke (1875-1926)

12.2.05

Viagem à Namíbia (VII)

A capital

O dia continua triste. O céu está quase sempre coberto de nuvens, chove de vez em quando e não prima pelo calor. Após o pequeno-almoço – torradas, compota, ovo cozido, chá, cereais, fruta -, saímos até ao centro, quando há uma aberta e temos o primeiro contacto com a cidade – pequena, limpa, asseada até. É Sábado, o movimento vai-se extinguindo à medida que se aproxima a uma da tarde e as lojas fecham.


Passeamos pelas ruas, fazemos o circuito sugerido pelo lonely planet mas algumas ruas mudaram de nome, agora figuram nomes de líderes africanos, contudo ainda se encontram muitas a terminar em strasse. Subimos até a um pequeno monte e avistamos a cidade com alguns prédios altos, mas a grande maioria possui poucos andares. As casas das redondezas estão protegidas dos avanços dos assaltantes. Os muros ou grades estão encimados com arame farpado e cerca eléctrica. Nota-se que há medo mas não nos apercebemos de nada estranho, as pessoas têm bom ar, não se vê muita polícia pela rua. Suponho até que os níveis de violência são bastante baixos, mas a proximidade da África do Sul e da violência que por lá grassa leva-os a estas precauções. Que sei eu? Acabei de chegar.


Decidimos ir almoçar ao Luigi & the fish, um restaurante muito conceituado que nos aconselharam em Luanda. Pomo-nos a caminho e rapidamente nos apercebemos que fica fora da cidade, em Klein Windhoek, mas continuamos, faz bem caminhar. O restaurante é muito grande, com uma ampla esplanada, mesas compridas de madeira e bancos, parece uma cervejaria alemã, apesar do nome italiano. A ementa é muito variada - entradas, tapas, peixe, camarão, galinha, carne de vaca e porco, caça, carneiro, saladas, sobremesas, menus para crianças, vegetarianos, etc. Um restaurante que serve, essencialmente, nouvelle cuisine.

No regresso, apanhamos um táxi e perguntamos ao taxista se ouviu a previsão meteorológica, quando vai deixar de chover, e ele responde-nos que será no próximo ano, em Junho, que vivem das chuvas, que é bom para as terras. A chuva veio na altura certa, nós é que não, mas não está a ser desagradável, temos a vantagem de não necessitarmos de protector solar, nem de repelente de insectos, por enquanto. Felizmente trouxemos alguma, pouca, roupa quente e sapatos resistentes. Não há nada como aprendermos à nossa custa. Habituados ao Verão seco, os europeus surpreendem-se que a época das chuvas seja no Verão por estas paragens, mesmo que o tenham lido repetidamente em vários lugares.


À tarde visitamos o Museu Nacional da Namíbia (Alte Feste) - um edifício que remonta a 1890 e que contém peças e fotos do período colonial, assim como artefactos indígenas, e dá grande destaque à luta da independência da Namíbia -, os Jardins do Parlamento, passamos pelas igrejas principais e pelas ruas principais da baixa - parece que num relance ficamos a conhecer toda a cidade.


No regresso ao albergue adquirimos o jantar num supermercado, que têm mais variedade de produtos do que os de Angra, e compramos postais para mandar aos amigos. Viemos, definitivamente, para a Europa em África. Que bom, ou não, para este povo.

10.2.05

Viagem à Namíbia (VI)

O primeiro contacto


O aeroporto de Windhoek, com o nome do político
Hosea Kutako, situa-se a cerca de 40 km para norte da capital e não terá sido difícil construí-lo – a terra é plana, até parece que lhe passaram uma espátula. A aerogare é pequena, possui uma única passadeira para recolha de bagagens mas é moderna e asseada. Cá fora, os motoristas de carrinhas que fazem a ligação do aeroporto à capital e os taxistas oferecem transporte de uma forma delicada, sem pressões. Propõem o preço de N$100 por passageiro com partilha com outros passageiros ou N$250 por táxi para 2 pessoas. Vamos até à cidade partilhando o táxi com um senhor francófono, vindo igualmente de Luanda.

A paisagem, agora de perto, parece ter mais vegetação. As estradas estão muito bem asfaltadas, sinalizadas e riscadas. Conduz-se à esquerda, como na África do Sul - influência inglesa.

O céu está cinzento. Contávamos com mais sol, céu azul, calor.


Ao chegar ao albergue cai uma primeira bátega, pouco depois vem a trovoada. O recepcionista chama-se Joel e é um jovem muito bem disposto e brincalhão. Logo que se apercebe que somos portuguesas fala no Euro 2004, na selecção portuguesa, no Figo. Um hóspede angolano, artista de vários engenhos, residente em Windhoek, fala-nos em português.

Instalamo-nos no quarto espaçoso pintado a ocre, decorado com mantas africanas e escurece rapidamente. Garantem-nos que o tempo tem estado quente e limpo, mas é difícil acreditar. Saímos da chuva nos Açores e entramos na chuva, contudo é mais seco do que lá.

Aconselham-nos a ter cuidado na rua, a não darmos nas vistas como turistas, a evitar a ostentação de máquinas fotográficas, mochilas ou tudo o que possa evidenciar dinheiro e artigos de qualidade. Afixam avisos com muito humor por todo o albergue a avisar-nos para nos precavermos dos amigos do alheio. Deste modo, não saímos para jantar, pois não sabemos muito bem qual a distância do restaurante mais próximo. Encomendo uma salada grega que chega 45 minutos depois.


O albergue é muito simpático, possui várias esplanadas, um bar junto à piscina, recantos mobilados com artefactos rústicos, muitas estatuetas de madeira e lata, jardins cuidados e uma atmosfera cosmopolita. Os que já cá estão a algum tempo fazem-se de casa, transportam-nos os sacos e dão-nos alguns conselhos. Vê-se televisão ao ar livre, joga-se bilhar e toma-se um copo enquanto se espera que chegue o jantar e a hora de adormecer. Um sul-africano de Durban é o mais falador, vem todos os meses a Windhoek, negoceia em carros – compra-os no seu país, condu-los até cá, vende-os por bom preço, conseguindo lucros de mais de 30% e regressa de avião. Chegámos à terra das oportunidades.

7.2.05

Viagem à Namíbia (V)

A ida

Partida do aeroporto das Lajes no voo das 10:25 rumo a Lisboa – 1.º troço de uma longa viagem que nos levará à Namíbia, onde contamos chegar amanhã à tarde. A bagagem é despachada directamente para Windhoek. Chegamos a Lisboa às 14:00. Temos de levantar os nossos passaportes que ficaram de nos ser entregues num rent-a-car de confiança da agência de viagens que tratou do visto para Angola. A Cris acredita que nos vão pedir a identificação para nos entregarem os passaportes, mas não é isso que acontece – dirigimo-nos ao balcão, dizemos ao que vimos e eles entregam-nos um envelope em nosso nome. Qualquer pessoa o poderia ter feito.

Dado que o voo para Luanda só parte à noite (23:30), há tempo para visitar os meus locais privilegiados de Lisboa, que são as livrarias – compro mais 2 livros para a viagem, junto à Desgraça de J. M. Coetzee, Luuanda, de Luandino Vieira e O Anjo da Tempestade de Nuno Júdice -, e ainda vou ao cinema. Vejo o último filme de João Canijo “Noite Escura” com excelentes interpretações no feminino e, tal como diz o resumo no jornal, “uma verdadeira tragédia grega” com todos os ingredientes, complexos e demais atributos: “o novo filme de João Canijo é uma tragédia grega passada para uma casa de alterne do Portugal, profundo, boçal e brutal.”

A vantagem de um avião particular é permitir a ligação entre dois pontos do planeta, sem linhas comerciais directas, no mínimo tempo possível. Deste modo se evita, por exemplo, chegar a um local às 14:00 e só ter ligação 9:30 depois. Sete horas de voo em constante balanço, como um automóvel em estrada de bagacina, a 11 300 m de altitude, à velocidade de 900 km/h, de Lisboa a Luanda, em linha recta, não permite que se durma e é muito cansativo. Lêem-se os jornais, as revistas, vêem-se os filmes que passam no ecrã e ainda sobra tempo. Em Luanda é mais uma hora que em Portugal.

Quando nos abeiramos da escada do avião em Luanda, respiramos fundo para podermos cheirar o tão famoso odor de África, mas como a Cris bem nota, só cheira a combustível.


aeroporto de Luanda

Desde que entrámos em Angola que temos tido um tratamento super VIP. Depois de uma noite em braco, o cansaço tomou conta de nós e o duche no aeroporto por 20 US dólares (bem pago) com direito a gel de banho, toalha e sala de estar é repousante e refrescante. A amiga da Cris, que trabalha no aeroporto de Luanda para a air Namíbia, mexeu todos os cordelinhos para não sermos envolvidas pela teia da burocracia do aeroporto e até nos coloca em executiva no voo Luanda / Windhoek.

A falta de dormir põe-me frágil, a tensão arterial deve estar baixa mas sobreviverei. Como o sono é revitalizante! À saída de Luanda o avião ruma para o Sul sobre terra, com o contorno da costa no lado direito e o Atlântico ao fundo. A terra é plana, da cor de tijolo, quase coberta de verde. Na capital, o verde foi substituído pelas coberturas metálicas dos musseques, mais a sul só as estradas e os rios cortam a monotonia da planície.

Duas horas e dez minutos e chegamos a Windhoek.

5.2.05

Viagem à Namíbia (IV)

Check list

Quanto mais se viaja mais se tem consciência que grande parte do que se leva é dispensável, contudo há uma tendência natural para embalarmos coisas e mais coisas que nos parecem imprescindíveis. Por esse facto, tenho uma check list feita há 10 anos, quando empreendi uma viagem de 6 semanas com uma pequena mochila, a que recorro com muito frequência, contudo, estava convicta que ir num safari em África exigiria cuidados redobrados e à lista acrescentei o que os operadores no terreno recomendavam. Depois de lá estar concluí que não era necessário tanto e, mais uma vez, carreguei com coisas a mais. É essa check list, já expurgada dos excessos, que aqui deixo.

Passagens
Passaporte
Livro de vacinas internacional
N.º de seguro de viagem e telefone de acesso
Cartões de crédito e débito
Dinheiro
Cantil
Chapéu
Binóculos
Óculos de sol
Lanterna
Canivete
Relógio
Kit de costura
Livro de endereços e telefones
Caderno p/ notas
Livros
Lapiseira
Caneta
Dicionário de bolso
Baralho de cartas
Bolsa
Mochila
Saco de viagem/mochila
Cadeado
Almofada insuflável
Suporte p/ pescoço
Telemóvel e carregador
Adaptador de electricidade
Máquina fotográfica e acessórios
Rolos de fotografias
Pilhas sobressalentes
Rádio
Papel higiénico
Cordel p/ roupa
Molas p/ roupa
Detergente líquido
Toalha leve grande
Toalha leve pequena
Fato de banho
Calças
Calções
T-shirts
Blusas
Camisa manga comprida
Sweat-shirt
Blusão
Impermeável
Pijama

Roupa interior
Peúgas
Chinelos de borracha
Ténis
Botas
Sandálias
Artigos de higiene pessoal
Repelente de insectos
Protector solar
Comprimidos de enjoo
Gel p/ queimaduras
Comprimidos p/ malária
Medicamentos
Colher

4.2.05

Ó BEIJO

Dada a polémica do post anterior, aqui vai mais um sobre o beijo.

Ó BEIJO tão doce
sou um pequeno grão de pó
não me esqueçam teus laços
não me prives do abraço que me estreita
a ponto de me dissolver em Deus
São sem número as delícias escondidas
num só dos Teus abraços, ó Deus vivo
Meu amor tão doce
demore em Ti, unida

És quanto de precioso possuo
nada tenho além de Ti
Nem no céu, nem na terra desejo
algum tenho além de Ti

Para Ti caminham meu pensamento
e meu fim

Gertrudes de Helfta (séc. XIII)
Trad. José Tolentino Mendonça

2.2.05

Ser limpo ou a arte de saber limpar passeios em Angra e noutros lugares

É habitual dizer-se que quem é limpo não é quem limpa mas quem não suja, e que dizer daqueles que não sabem limpar?

Esta questão vem a propósito do que diariamente se vê nos passeios de Angra, mas que infelizmente é comum a muitas outras cidades, vilas e lugares deste país - a falta de limpeza dos mesmos, impregnados, principalmente, de centenas e milhares de beatas que são atiradas diariamente ao chão e que não são preocupação para os varredores.

Ainda hoje os vi aos pares de vassoura na mão, a varrer o mínimo possível, a avançar rua acima, apanhando o que mais ressalta à vista e a deixar as beatas atrás. Também já os vi a colocar o lixo à frente da vassoura mecânica, sem recorrerem ao aspirador que ela possui para o efeito, numa corrida desenfreada, que não sei se é por terem muito trabalho pela frente ou se querem acabar depressa.

Fico sempre em dúvida a quem atribuir a responsabilidade de tão má limpeza e lanço aqui algumas perguntas:

Não lhes é dito que devem limpar tudo?

É-lhes dito e eles não obedecem?

Partem do princípio que eles (varredores) sabem o que devem fazer?

Não têm quem lhes dê ordens?

Todos consideram que as beatas devem ficar no chão?

E os fumadores, quando vão aprender que as beatas são para colocar na papeleira?

E se os fumadores deixassem de fumar?