17.4.05

Viagem à Namíbia (XIV)

Safari - Dia 4 (2)
Aprox. 4,6hrs (270 km)

Acampamento no parque da comunidade
Ova-Himba

A visita à aldeia promete ser algo de completamente novo. Estamos nesta terra há uma semana, mesmo que pareçam meses, e tudo o que temos visto é um país desenvolvido ao estilo ocidental mas parece que agora entraremos naquilo que habitualmente é conhecido por África profunda, com uma pitada de exotismo – o jovem branco eleito chefe da aldeia.

Distribuíram-nos uma fotocópia de um pequeno documento explicativo do que é a aldeia Himba. “Ainda em idade escolar, Jaco passava grande parte do seu tempo com os pastores Damara-Nama. Em 1997, começou a trabalhar como guia em Forte Sesfontein e teve o primeiro contacto com o povo Himba. Surpreenderam-no os métodos de cultivar a terra, a sua cultura e tradições. Nessa altura começou a aprender a língua Otji Herero e quando deixou de trabalhar neste local começou a trabalhar como guia free lancer no Campo Epupa. Aqui criou amizade com uma velha mulher Himba, que o adoptou na sua cultura e como filho. Através dela conheceu muitos outros Himbas. De volta à terra dos pais para trabalhar nos terrenos destes, continuou a trabalhar como guia junto dos Himbas. Um ancião sugeriu-lhe que levasse mulheres e crianças para o ajudarem a cultivar a terra. Estes então decidiram construir a sua própria vila naqueles terrenos e continuar com o estilo de vida semi-nómada, mudando para vários locais da quinta de acordo com a quantidade de erva disponível. Em vez de trabalhar como guia, Jaco passou a receber turistas no seu próprio terreno. O dinheiro que recebe destas visitas servem, essencialmente, para comprar medicamentos, embora considerem que os métodos de tratamento tradicionais é que devem ser usados e que os mais fortes é que devem sobreviver”.

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Jaco vem buscar-nos ao parque de campismo, veste uns calções largos, uma T-shirt que já foi branca, de pés descalços, com vários colares e pulseiras nos pulsos e tornozelos e um bordão que não serve unicamente para o apoiar, pois é demasiado jovem para isso, mas sim apontar. Faz-nos uma pequena apresentação da aldeia e essencialmente tenta colocar-nos à vontade. Hoje os homens que lá vivem estão fora porque umas vacas deram bezerro, mais tarde somos informados que não voltarão. Na aldeia só estão as mulheres, as adolescentes e as crianças.

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A primeira sensação é deveras estranha, parece que estamos a invadir um local e que estas pessoas pertencem a um outro lugar que não o nosso ou então que estamos perante uma representação circense, no qual eu me sinto terrivelmente mal. Estou certa que a sensação é comum a todos os outros. Dizem-nos que podemos fotografar mas não nos atrevemos, até que o Wolf começa a tirar fotos e porque nos sentimos bem recebidos tentamos dialogar com as crianças e as mulheres, mas eles só conseguem dizer adeus em inglês. Jaco prepara-se para lhes arranjar uma professora de inglês vinda da Europa, vai colocar uma núncio na net com a ajuda da irmã.

Aprendemos o modo de vida deles, das relações interpessoais, do que se alimentam, como procedem à higiene diária sem um pingo de água e da sua vontade em continuarem com um estilo de vida milenar, apesar de muitos da sua tribo terem há muito adoptado o estilo europeu. Vivem do que a terra lhes dá, da criação de gado e do artesanato que vendem.

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A aldeia tem um cheiro forte que se entranha em todos nós e que nos perturba – é um misto dos cheiros da terra barrenta e das cabras que ocupam o curral junto às palhotas.

Regressamos ao parque de campismo mas as imagens da aldeia, os sorrisos das mulheres e adolescentes, as brincadeiras das crianças, a cor de tijolo e o aroma intenso e único não nos largam. Não mais esquecerei este momento.

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