19.8.04

Aí vai um pouco do sarau de aniversário

Há uma lua nesta manhã de luz.

Custa-me acordar, porque me custa sair de mim, voltar ao exterior, ao dia demasiado azul, ao barulho, ao sol sem tempo.
Mas esta manhã, há algo semelhante à noite, ao silêncio, ao teu rosto dentro do meu rosto e é segura – a manhã - para passar à festa de ti.
A lua está já a cair, mas recorta o céu, sobrancelha horizontal, no teu rosto oval. E dói-me sair do calor nu onde me aninho – mãe da madrugada. E curvo-me, a apanhar o silêncio com que faço o itinerário de todos os dias. Como quem apanha frutos para matar a fome. Para matar o tempo que falta queimar. Para matar a morte.

Sou obrigada à rotina da água, à roupa, à rua.

Luísa Ribeiro

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