21.7.07

os búzios que são fado

Ana Moura canta, de Jorge Fernando, o fado OS BÚZIOS, pelo qual muitos de nós nos apaixonámos. Há muito tempo que não sentia tão profundo a emoção do fado que reporta a sorte e os destinos que se se podem mudar.

Havia a solidão da prece no olhar triste
Como se os seus olhos fossem as portas do pranto
Sinal da cruz que persiste
Os dedos contra o quebranto
E os búzios que a velha lançava
Sobre um velho manto

À espreita está um grande amor
Mas guarda segredo
Vazio, tens o teu coração
Na ponta do medo
Vê como os búzios caíram
Virados pr'a Norte
Pois eu vou mexer no destino
vou mudar-te a sorte

Havia um desespero intenso na sua voz
O quarto cheirava a incenso mais uns quantos pós
A velha agitava o lenço
Dubrou-o, deu-lhe dois nós
E o seu Pai de Santo falou
Usando-lhe a voz

À espreita está um grande amor
Mas guarda segredo
Vazio, tens o teu coração
Na ponta do medo
Vê como os búzios caíram
Virados pr'a Norte
Pois eu vou mexer no destino
vou mudar-te a sorte

15.7.07

" ... "

Há memórias assim... Levam-nos quando vêm, trazem-nos do impossível que é lá ficar. E como um despertar, há músicas que são veículos. Perscrutar a sua passagem no acinzar do horizonte e demorar os sentimentos que quiserem acontecer… por te rever eternamente.


Por Te Rever

quisera roubar-te essas palavras e morrer

trazer-te assim até ao fim do que eu puder

e começar um dia mais eternamente

por te rever, só

pudesse eu guardar-te nos sentidos e na voz

e descobrir o que será de nós

e demorar um dia mais eternamente

por te rever, só

quisera a ternura, calmaria azul do mar

o riso o amor o gosto a sal a sol do olhar

e um lugar pra me espraiar eternamente

por te rever, só

pudesse eu ser tempo a respirar no teu abraço

adormecer e abandonar-me de cansaço

quisera assim perder-me em mim eternamente

por te rever, só


Mafalda Veiga in álbum "Cantar"

14.7.07

Mundo-mundo

O Mundo inteiro tal como é, dádiva ou pena, coisa longa e ligada que nos prende e torna e retorna e volta e revolta em nós, a favor ou contra ele, que sempre fez a menina-anoitecida pensar e repensar e acabar por aceitar. Mundo, coisa cheia de coisas e de novos lugares para lá dos velhos, que obriga à solidão conforme pede companhia, como um mundo depois do mundo, com ambiências-outras para lá destas, destas ligações de sempre, ora estranhas, ora doces.

Alexandre Borges in Flor do Mundo, Revista Magma - Número Quatro 2007

8.7.07

Uma noite para nunca mais


Nunca mais esquecerei esta noite, a primeira noite no campo, que fez da minha vida uma noite longa e sete vezes aferrolhada.
Nunca mais esquecerei aquele fumo.
Nunca mais esquecerei as pequeninas caras das crianças cujos corpos eu tinha visto transformarem-se em espirais sob um azul mudo.
Nunca mais esquecerei estas chamas que consumiram para sempre a minha Fé.
Nunca mais esquecerei este silêncio nocturno que me privou, para a eternidade, do desejo de viver.
Nunca mais me esquecerei estes momentos que assassinaram o meu Deus e a minha alma, e os meus sonhos, que tomaram a aparência de um deserto.
Nunca mais esquecerei isto, mesmo que tenha sido condenado a viver tanto tempo quanto o próprio Deus. Nunca mais.

Elie Wiesel in Noite