Fórum independente vocacionado para a discussão de ideias e promoção de todo o género de eventos culturais e de intervenção cívica.
Os gatos reunem todas as Sextas-feiras, na Miragaia, em Angra do Heroísmo.
21.7.07
os búzios que são fado
Havia a solidão da prece no olhar triste
Como se os seus olhos fossem as portas do pranto
Sinal da cruz que persiste
Os dedos contra o quebranto
E os búzios que a velha lançava
Sobre um velho manto
À espreita está um grande amor
Mas guarda segredo
Vazio, tens o teu coração
Na ponta do medo
Vê como os búzios caíram
Virados pr'a Norte
Pois eu vou mexer no destino
vou mudar-te a sorte
Havia um desespero intenso na sua voz
O quarto cheirava a incenso mais uns quantos pós
A velha agitava o lenço
Dubrou-o, deu-lhe dois nós
E o seu Pai de Santo falou
Usando-lhe a voz
À espreita está um grande amor
Mas guarda segredo
Vazio, tens o teu coração
Na ponta do medo
Vê como os búzios caíram
Virados pr'a Norte
Pois eu vou mexer no destino
vou mudar-te a sorte
15.7.07
" ... "
Há memórias assim... Levam-nos quando vêm, trazem-nos do impossível que é lá ficar. E como um despertar, há músicas que são veículos. Perscrutar a sua passagem no acinzar do horizonte e demorar os sentimentos que quiserem acontecer… por te rever eternamente.
Por Te Rever
quisera roubar-te essas palavras e morrer
trazer-te assim até ao fim do que eu puder
e começar um dia mais eternamente
por te rever, só
pudesse eu guardar-te nos sentidos e na voz
e descobrir o que será de nós
e demorar um dia mais eternamente
por te rever, só
quisera a ternura, calmaria azul do mar
o riso o amor o gosto a sal a sol do olhar
e um lugar pra me espraiar eternamente
por te rever, só
pudesse eu ser tempo a respirar no teu abraço
adormecer e abandonar-me de cansaço
quisera assim perder-me em mim eternamente
por te rever, só
Mafalda Veiga in álbum "Cantar"
14.7.07
Mundo-mundo
Alexandre Borges in Flor do Mundo, Revista Magma - Número Quatro 2007
8.7.07
Uma noite para nunca mais
Nunca mais esquecerei esta noite, a primeira noite no campo, que fez da minha vida uma noite longa e sete vezes aferrolhada.
Nunca mais esquecerei aquele fumo.
Nunca mais esquecerei as pequeninas caras das crianças cujos corpos eu tinha visto transformarem-se em espirais sob um azul mudo.
Nunca mais esquecerei estas chamas que consumiram para sempre a minha Fé.
Nunca mais esquecerei este silêncio nocturno que me privou, para a eternidade, do desejo de viver.
Nunca mais me esquecerei estes momentos que assassinaram o meu Deus e a minha alma, e os meus sonhos, que tomaram a aparência de um deserto.
Nunca mais esquecerei isto, mesmo que tenha sido condenado a viver tanto tempo quanto o próprio Deus. Nunca mais.
Elie Wiesel in Noite