Fórum independente vocacionado para a discussão de ideias e promoção de todo o género de eventos culturais e de intervenção cívica.
Os gatos reunem todas as Sextas-feiras, na Miragaia, em Angra do Heroísmo.
6.12.07
A propósito do céu
"A RHJ deu-lhes um voto de confiança e tratou de arranjar umas páginas brancas onde as palavras da Cristina Taquelim se pudessem encontrar com as ilustrações do Jorge Pereira. Durante meses palavras e ilustrações namoraram, foram-se acrescendo em cor,sentidos, sinais, muitas leituras e ao fim de alguns meses - os primeiros filhos tem sempre uma gestação imprevista - nasceu o " Malaquias" de parto natural, com pouco peso e do tamanho da palma da mão como convém a um pequeno albúm ilustrado. Nasceu e o Drº Bartolomeu Campos Queiróz, que assitiu ao parto disse sabedor: - este menino foi feito para todos os que acreditam que "para estar feliz num porto, é preciso ver para além do depois da linha do horizonte".
Talvez lhe apeteça ir espreitar, pois o dito " Malaquias " será lançado em Lisboa, na Fnac do Chiado, dia 8 de Dezembro pelas 18.00H e os autores gostavam de fazer o baptizado do "crianço" entre amigos. Um abraço. Taquelim"
Vou fazer por estar lá. O céu...
21.10.07
1.10.07
um brinde para o gato que saltou ...
Um dos nossos queridos gatos, o Teotónio, após várias provas de corpo, canto, dicção, monólogos e diálogos, foi seleccionado para interpretar outras vidas - pelo menos 7 -, e seguiu viagem ontem de manhã. Deixou-nos com um aperto na garganta de felicidade por correr pelo sonho e saltar pela arte.
Brindámos no sábado ao futuro dele e ao nosso. Na impossibilidade de usar as taças, por já estarem embaladas, recorremos à improvisação e lançámos a nível mundial uma linha moderna, dinâmica e amiga do ambiente.
21.7.07
os búzios que são fado
Havia a solidão da prece no olhar triste
Como se os seus olhos fossem as portas do pranto
Sinal da cruz que persiste
Os dedos contra o quebranto
E os búzios que a velha lançava
Sobre um velho manto
À espreita está um grande amor
Mas guarda segredo
Vazio, tens o teu coração
Na ponta do medo
Vê como os búzios caíram
Virados pr'a Norte
Pois eu vou mexer no destino
vou mudar-te a sorte
Havia um desespero intenso na sua voz
O quarto cheirava a incenso mais uns quantos pós
A velha agitava o lenço
Dubrou-o, deu-lhe dois nós
E o seu Pai de Santo falou
Usando-lhe a voz
À espreita está um grande amor
Mas guarda segredo
Vazio, tens o teu coração
Na ponta do medo
Vê como os búzios caíram
Virados pr'a Norte
Pois eu vou mexer no destino
vou mudar-te a sorte
15.7.07
" ... "
Há memórias assim... Levam-nos quando vêm, trazem-nos do impossível que é lá ficar. E como um despertar, há músicas que são veículos. Perscrutar a sua passagem no acinzar do horizonte e demorar os sentimentos que quiserem acontecer… por te rever eternamente.
Por Te Rever
quisera roubar-te essas palavras e morrer
trazer-te assim até ao fim do que eu puder
e começar um dia mais eternamente
por te rever, só
pudesse eu guardar-te nos sentidos e na voz
e descobrir o que será de nós
e demorar um dia mais eternamente
por te rever, só
quisera a ternura, calmaria azul do mar
o riso o amor o gosto a sal a sol do olhar
e um lugar pra me espraiar eternamente
por te rever, só
pudesse eu ser tempo a respirar no teu abraço
adormecer e abandonar-me de cansaço
quisera assim perder-me em mim eternamente
por te rever, só
Mafalda Veiga in álbum "Cantar"
14.7.07
Mundo-mundo
Alexandre Borges in Flor do Mundo, Revista Magma - Número Quatro 2007
8.7.07
Uma noite para nunca mais
Nunca mais esquecerei esta noite, a primeira noite no campo, que fez da minha vida uma noite longa e sete vezes aferrolhada.
Nunca mais esquecerei aquele fumo.
Nunca mais esquecerei as pequeninas caras das crianças cujos corpos eu tinha visto transformarem-se em espirais sob um azul mudo.
Nunca mais esquecerei estas chamas que consumiram para sempre a minha Fé.
Nunca mais esquecerei este silêncio nocturno que me privou, para a eternidade, do desejo de viver.
Nunca mais me esquecerei estes momentos que assassinaram o meu Deus e a minha alma, e os meus sonhos, que tomaram a aparência de um deserto.
Nunca mais esquecerei isto, mesmo que tenha sido condenado a viver tanto tempo quanto o próprio Deus. Nunca mais.
Elie Wiesel in Noite
20.5.07
O que tenho para te dar? Uma gramática de sentimentos,
verbos sem o complemento de uma vida, os substantivos
mais pobres de um vocabulário íntimo - o amor, o desejo,
a ausência. Que frase construiremos com tão pouco? A
que léxico de paciência iremos roubar o que nos falta?
Então, ofereço-te uma outra casa. As paredes têm a
consistência do verso; o tecto, o peso de uma estrofe.
Abro-te as suas portas; e o sol entra pela janela de
uma sílaba, com o seu fogo vocálico, como se uma
palavra pudesse aquecer o frio que te envolve.
E pergunto-te: que outras palavras queres? A música
sonora de um ócio? O espesso manto com que o veludo
se escreve? O fundo luminoso do azul? Poderia dar-te
todas as palavras na caixa do poema; ou emprestar-te
o canto efémero em que se escondem do mundo.
Mas não é isso que me pedes. E a vida que pulsa
por entre advérbios e adjectivos esfuma-se depressa,
quando procuramos seguir a linha do verso. O que fica?,
perguntas-me. Um encontro no canto da memoria. Risos,
lágrimas, o terno murmúrio da noite. Nada, e tudo.
Nuno Júdice, in O Estado dos Campos
7.5.07
domingos
Os domingos dos passeios tristes
os domingos tristes
os domingos cinzentos
nem sempre chuvosos
os domingos de ressaca
os domingos na cama
os domingos de preparação de
actividades para toda a semana
os domingos das tarefas domésticas
por oposição
aos domingos de nada fazer
por opção
pelo descanso
e reposição
de energias
o domingo estupidificante de passeio ao
centro comercial
o domingo que
o domingo
Também há aquele domingo fantástico, mas não sei se valerá a pena falar dele.