14.12.05

Para a Luísa

para saudar o regresso: um poema do nosso querido Júdice

REFÚGIO

Abrigou-se da vida na devastação da sombra.
Então, a idade incerta da mulher que oculta o rosto
surgiu-lhe com a evidência da eternidade.
Procurava uma resposta; e mesmo aquilo que era real
e podia confortá-lo numa certeza
adquiria um aspecto equívoco. Nada sabia de si próprio
- concluiu. Mas que importa isso? O conhecimento
essencial é o dos outros, o daqueles a quem nos liga
o amor, o ódio, ou apenas a indiferença - esses
cuja presença nos confirma sobre nós,
dando-nos algo de uma existência que não exigimos.
No entanto, se é assim, pensou, para que serve
a incógnita celeste, o azul e a treva que alternam
na memória da infância, uma imagem de perfeição
que o canto da ave interrompe, por instantes,
apenas para que o silêncio se torne mais profundo
- essencial! Após o que, levantando-se,
fechou a janela. O universo cansava-o de si próprio...

Sem comentários: