Enviei-te um postal com umas fotos esbatidas.
São fotos de barcos com proas multicores e desenhos de figuras míticas, de gatos cinzentos listrados, de portas com aldrabas em latão, de varandas e balcões barrocos, de autocarros com dois tons de laranja e bordadeiras de rendas de bilros.
As cores do postal já foram intensas e vivas e o cartão já foi branco, mas com o passar do tempo tornou-se amarelo e desbotado.
Poderia ter escolhido um outro postal, limpo, asseado, imaculado, mas quis este e perceberás porquê.
Escrevi o teu endereço no canto inferior direito e guardei-o.
No dia seguinte voltei a pegar-lhe para te transmitir as minhas impressões da ilha. Tive de ser sucinta, correcta na escolha das palavras para em poucas linhas resumir o que sinto. Assinei-o e procurei a estação dos correios mais próxima para o enviar. Venderam-me um selo com uma louva-a-deus desenhada sobre fundo verde. Colei-o e coloquei o postal no marco do correio vermelho que se encontrava na própria estação.
Já deves ter recebido o postal que te enviei, enrugado e amachucado pelas diversas mãos por que passou para chegar até ti e pelo tempo que esteve ao relento no expositor da loja onde o comprei.
Enviei-te um postal desbotado e triste mas achei que só poderia ser aquele por ter sido desprezado por todos os outros turistas. Eu sei que tu entendes estas coisas.
Tive alguma dificuldade em encontrar as palavras que melhor descrevem estas férias e agora, sentada numa mesa de café junto à baía, com um livro sobre os joelhos, os cadernos na mesa, um sumo por beber e os turistas que circulam ininterruptamente, concluo que bastaria ter escrito que gostaria muito que estivesses aqui.
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