Case Venie é o último romance de Romana Petri editado em Portugal. Esta escritora continua a surpreender-me.
Partiu de manhã cedo, como quando viera, com a mesma bicicleta ruidosa que o Parcio lhe emprestara. Mas foi uma viagem de regresso sem imaginações, e pareceu-lhe longuíssima.
Quando chegou aos declives do Pausillo, sentiu um grande cansaço e parou à sombra de uma amoreira, porque notou que algo a atacava por dentro, algo que não tinha nada a ver com os órgãos do corpo. Era algo de imaterial e não podia ser outra coisa senão a sua alma.
Alcina acreditara sempre na alma, mas considerava-a sobretudo um meio para conhecer tudo excepto ela própria. E se agora se sentia tão cansada era porque a sua alma se estava rebelando, e usava todo aquele mal-estar para a fazer compreender que a memória e a vontade dos homens eram as suas faculdades principais, e eram meios verdadeiramente extraordinários para obtermos um conhecimento mais íntimo daquilo que somos. Então, Alcina compreendeu que a alma se lhe estava revelando com explicação da vida e da morte, e que a estava consolando recordando-lhe muitas coisas. Sem saber porquê concentrou-se de repente na ideia do sonho, que lhe parecia ser a mais convincente. Pensou que no sonho o homem se move na imobilidade do sono, e que dessa maneira espantosa se encontra com os seus defuntos. Alcina não compreendeu como é que era possível que uma ideia tão simples conseguisse convencê-la e no entanto assim era, a capacidade que os mortos tinham de aparecer nos sonhos dos vivos deu-lhe a certeza de que alguma coisa deles sobrevivia de facto e que a alma era sem dúvida imortal e verdadeiramente participante do divino.
in Petri, Romana, Case Venie, Cavalo de ferro, 2004, 1.ª edição, p. 181
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26.9.04
6.9.04
Setembro
Não percam Setembro em todo o seu esplendor no próximo capítulo de EUDEMIM, do nosso colegato Tchang. Eis alguns dos aromas:
"Cheira à caruma, ao verde do milho, ao sangue das uvas inchadas que o lavrador despiu da parra, aos figos esgaçados, às abóboras e aos mogangos, à tomatada que, no alpendre da casa, está dependurada a escorrer, ao açaflor a secar em tabuleiros, às maçãs guardadas em cestos de vimes, com asa, à cal das paredes ancestrais, ao álcool das fermentações…"
"Cheira à caruma, ao verde do milho, ao sangue das uvas inchadas que o lavrador despiu da parra, aos figos esgaçados, às abóboras e aos mogangos, à tomatada que, no alpendre da casa, está dependurada a escorrer, ao açaflor a secar em tabuleiros, às maçãs guardadas em cestos de vimes, com asa, à cal das paredes ancestrais, ao álcool das fermentações…"
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